Foi no Brasil, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, que José Saramago revelou a dificuldade em conviver com a gaguez.
"Os meus problemas não foram os de uma simples e passageira dislexia. O meu problema foi, e continua a ser, o tartamudeio, a gagueira (gaguez). Aqueles que gozam da sorte de uma palavra solta, de uma frase fluida, não podem imaginar o sofrimento dos outros, esses que no mesmo instante em que abrem a boca para falar já sabem que irão ser objeto da estranheza ou, pior ainda, do riso do interlocutor. Com a passagem do tempo acabei por criar, sem ajuda, pequenos truques de elocução, usar os bloqueios leves como pausas propositadas, perceber com antecipação a sílaba onde irei ter dificuldades e mudar a construção da frase, etc. Curiosamente, se tiver de falar para cinco mil pessoas estarei mais à vontade do que a falar com uma só. Salvo em situações de extremo cansaço ou nervoso, hoje sou capaz de controlar adequadamente o meu débito verbal. A gagueira (gaguez), no meu caso, passou a ser uma pálida sombra do que foi na infância e na adolescência. Aprendi à minha própria custa."
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